De acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), o número de bicicletas fabricadas no Brasil em 2019, deve crescer 10,8% em relação a 2018. De acordo com a entidade, o Polo Industrial de Manaus (PIM), já produziu no primeiro trimestre deste ano cerca de 190 mil bicicletas, maior quantidade desde 2015.
A bicicleta é um meio de transporte que apresenta um baixo custo, além de contribuir para preservação do meio ambiente, com isso os números mostram que muitos brasileiros adotaram de vez o veículo de duas rodas. O que pode ser usado para transporte, lazer e esporte profissional, também ajuda na prática de atividades físicas que trazem benefícios à saúde.
Em Palmas, o ciclismo, seja esportivo ou de passeio, é uma das modalidades que mais tem crescido nos últimos anos. Ao passo que os adeptos crescem, aumentam também os desafios em relação a como a cidade tem se adaptado para esse crescimento. A segurança dos ciclistas, que precisam dividir os espaços com carros e motos, a educação que recebem no trânsito, a ausência de um local específico para treinamento e as dificuldades que a cidade tem para realizar eventos, são os pontos que mais preocupam os praticantes.
Primeiros passos
De acordo com a Federação Tocantinense de Ciclismo (FTC), fundada em 1996, as primeiras provas da modalidade realizadas na década de 1990, na Capital, aconteciam na região da Avenida JK. Na época, a cidade estava em expansão e durante os finais de semana havia pouca movimentação, com isso os eventos relacionados ao esporte aconteciam nos terrenos vazios da região central de Palmas.
A cidade cresceu, ganhou ruas e avenidas largas, com espaço suficiente para os mais variados tipos de veículos. Com o passar do tempo não só as vias, mas o número de pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas aumentou e eles passaram a dividir, muitas vezes, o mesmo espaço.
Eventos
A capital não para de crescer e o número de eventos esportivos que a cidade recebe também. Em relação ao ciclismo, uma das maiores provas é a Volta de Palmas, que neste ano chegou à sua sexta edição. A competição é a principal prova da categoria do ciclismo de estrada do Tocantins e costuma reunir ciclistas de várias partes do Brasil.
De acordo com o presidente da FTC, Marcelo Leão, Palmas tem características importantes de um local que a prática do ciclismo poderia receber mais eventos da modalidade, porém existe uma enorme dificuldade para realização das competições devido o planejamento das vias com muitas rotatórias.
“Embora seja uma cidade com muitas avenidas e planejada, por incrível que possa parecer temos muitas dificuldades em realizar evento na Capital. Isso se dá pela falta de retorno antes das rotatórias, se em uma prova o percurso tiver uma curva dentro da rotatória é obrigatório, por questões de segurança, fechá-la por inteiro. Um simples retorno resolveria essa questão. Esse deve ser um dos motivos que é tão difícil conseguir a liberação dos órgãos responsável pela mobilidade na cidade para realização de eventos. Hoje, está mais fácil a realizar as provas no interior do Estado “, pontua o presidente, que é um dos fundadores da FTC.
Ciclofaixas
Criada em 2016, para dar espaço aos ciclistas, a ciclofaixa de Palmas começa na Praça de Girassóis, passa pela Theotônio Segurada e vai até o Parque Cesamar. Na principal avenida da cidade, existe sinalização horizontal com indicação que a faixa é destinada aos ciclistas. As placas avisam sobre os dias e horários de funcionamento do trecho.
Porém, o trajeto recebe críticas dos ciclistas, que relatam que os motoristas não respeitam os horários que são destinados aos atletas, invadem a faixa, estacionam os veículos nas vias e colocam as vidas dos ciclistas em risco, além disso a fiscalização não ajuda a resolver o impasse. Dirigir dentro do perímetro destinados aos ciclistas é uma infração gravíssima de trânsito. O condutor pode ser multado em R$ 880 e receber sete pontos na carteira.
Para o presidente da Federação Tocantinense de Triathlon, Sérgio Moraes, o investimento na melhoria e na segurança dos trechos gera um retorno enorme aos cofres públicos. “Investir em ciclovias e ciclofaixas é uma forma de ajudar a economizar recursos da saúde público, pois vias seguras evitam que os ciclistas sofram acidentes e com isso ocupem os postos de saúde”, destaca o presidente.
Acidentes
De acordo com a Comissão de Gestão da Informação do Programa Vida no Trânsito de Palmas, de 2011 a 2018, a Capital registrou 20 óbitos de ciclistas por acidentes de trânsito. O mais recente deles vitimou o médico Pedro Caldas. O acidente com o médico, no final de 2017, resultou em uma pressão diante do poder público municipal, que em dezembro de 2018, após um ano da morte do atleta, criou, via decreto, uma APCC (Área de Proteção ao Ciclismo de Competição).
O documento que entraria em vigor após três meses da data de publicação, acabou prorrogado por mais três e os ciclistas de competição seguem tendo que dividir o espaço com os carros e motos em treinos na capital. Para o tricampeão estadual de ciclismo, Nelman Alves, de 45 anos de idade e pelo menos 25 em cima de uma bicicleta, já passou da hora da cidade ter um local específico para os ciclistas.
“Cheguei em Palmas em 2008, mas competi 15 anos por Gurupi em provas em Palmas, por aqui tenho visto desde que cheguei a evolução no número de ciclistas, tanto como atletas profissionais, quanto para a prática de passeio. Mesmo com esse crescimento a cidade não tem estrutura para o ciclista, muitas vezes a gente treina em locais proibidos devido à ausência de um local, praticamente treinamos juntos com os carros", afirma o atleta que mesmo com o carro na garagem vai para o trabalho todos os dias de bicicleta.
Alves, que mora em Taquaralto e trabalha em uma loja de bicicletas na Avenida JK, contou ainda que encontra resistência da esposa e os filhos, pois depois do acidente que sofreu o receio tomou conta da família. "Já me envolvi em um acidente, não quando competia, estava em direção do trabalho. Vejo muita falta de respeito com o ciclista, carros e motos não nos respeitos, o que reforça a criação de um local para nós”, finaliza.